terça-feira, 9 de novembro de 2010

Talvez seja como se esconder atrás da porta. Talvez seja como se perder nas cobertas. Talvez seja como guardar cartas antigas. Talvez seja motivo para não sorrir. Ou para não sair. Talvez dê vontade de fugir. Ou de telefonar. Talvez seja monocromático, homogêneo e sem graça. Talvez te deixe, e só. Talvez permaneça dentro. Talvez vá embora. Talvez te assombre durante a noite. E talvez chova. Talvez tudo fique meio embaçado. Talvez seja algo bastante familiar. Talvez seja como regredir. Ou como se retrair. Até que talvez seja como acordar. Talvez seja sincero. Ou talvez seja como se enganar. E, novamente, talvez baste um olhar.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

A energia do mundo anda me movendo. Em cada gesto, nuvem, cor, cheiro, calor. Em cada olhar que vai, eu quero ficar. Em cada palavra que fica, eu desapareço. Em todo e qualquer momento, me fragmento. Me perco, me esqueço. Não sei se fui guardada, mas também não quero voltar pra buscar. Ficou ali. Fiquei ali, aqui e em todo canto, brecha ou fresta. No soar do relógio a cada hora, esquecida na gaveta. A cada assunto esquecido, a cada momento passado. As sutilezas do mundo andam me tocando. Na chuva que escorre na janela do carro. No sereno da estrada. Na madrugada. No céu do fim da tarde que colore tudo e todo mundo. No dia frio de sol e céu azul. O vazio das pessoas anda me esmagando. No desviar de cada olhar, palavra. Na repulsa do toque. Na covardia da ausência. Que anda me torturando. Que anda me confundindo. Que anda. Anda simplesmente virando as costas e indo embora. E eu que já me perdi nesse mundo todo, só consigo agora ficar. Então fico.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

"(...) Nada mais terrível do que não ter nascido! ele dissera um dia. E agora? Agora só a liberdade importava: liberdade de um dia olhar o outro nos olhos e dizer: és tu - reconhecê-lo, identificar-se com ele logo que o encontrasse e enfim se deixar viver numa enfim conquistada disponibilidade, que a vida em si mesmo justificava. O anonimato, por exemplo, era uma antevisão do paraíso - andar desconhecido e livre pelas ruas, ninguém o identificava."

domingo, 7 de setembro de 2008

Essa manhã quase não consegui acordar de um sonho terrível. E quando acordei não era eu. Era eu e tudo misturado. As palavras, os pensamentos, as cores, lembranças. Coração, estômago, cabeça, tudo de cabeça pra baixo, tudo revirado. Que sensação mais esquisita! Parece que eu to do avesso. Mas ainda assim não dá pra enxergar direito o que que tem aqui dentro. Ou o que não tem. Se bem que o fora e o dentro também tão misturados. Não sei se dói mais o que vem de fora ou de dentro. Também não sei se sei a diferença entre os dois. É que tá tudo tão confuso. Eu preciso de alguma coisa que eu não sei o que é, mas eu preciso. Eu preciso de certeza. Preciso poder querer. Preciso querer poder. Preciso querer e poder. Preciso de tato, de concreto, do que é real ou que a realidade pertença. Fragmentos, tudo o que eu tenho são fragmentos. Que se perdem aos poucos. Que me perdem aos poucos. Me perco aos poucos, muitos, rápido e sem dor. Até ficar tudo vazio. Oco. No universo tão vazio quanto.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

(Diálogos: com Gabriel, 21:21)

(...)
- Mas acho que tudo tem seu tempo. E enquanto meu tempo nessa área anda em câmera lenta, eu tento fazer os meus outros relógios andarem pra frente. E uma hora, todos esses tempos se encontram. Sem pressa. Quem tem alma, pode sim ter calma.
- Todos os relógios se encontram...
- Mas é assim que eu vejo também... e os meus relógios e os seus, estão, geralmente, em tempos completamente diferentes. Mas são tempos que também se encontram. E é sempre ou quase sempre num desses momentos tão bons, que acabamos chamando de: sincronicidade.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Porque tantos mundos separados pela distância astronômica de um braço? Mundos e mares de profundezas imenssuráveis, inabitáveis, inexploráveis. Mas agora, lá fora, todo mundo é uma ilha; à milhas e milhas de qualquer lugar. Os braços não mais se encontram, os olhares se evitam e os silêncios... silêncios não são mais só silêncios. São lacunas que se enchem de agonia e de palavras que atropelam, atrapalham a magia de um simples e grandioso silêncio. Silêncio.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

sente. não sente. frio com sol. céu azul. dormir. acordar. acordar dormindo. dormir acordado. dormente. não sente.